quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O desenvolvimento cognitivo e o conceito científico

Os estudos de Vigotski sobre o desenvolvimento cognitivo a partir da década de 20 do século XX o permitiram postular sobre a necessidade de um estudo específico para o desenvolvimento dos conceitos científicos .
Uma das conclusões obtidas a partir desses estudos mostrou para o pesquisador que momentos programáticos específicos no processo escolar auxiliam o desenvolvimento dos conceitos científicos, isto é, a tomada de consciência em relação aos conceitos científicos é favorecida por situações delimitadas pelo professor autor no processo de ensino.
A ausência do conhecimento desse fundamento por aqueles que praticam o ensino leva a apenas aos que participam do processo de aprendizagem a assimilação da palavra vazia, ao verbalismo puro e simples ao clone que se instala com sua forma externa, porém vazia em conteúdo, ao espectro do conceito, não ao conceito e assim momentos programáticos delimitados pela intervenção consciente, organizada e seqüenciada caminha em cooperação com o desenvolvimento do conceito, com a evolução do significado da palavra.
VIGOTSKI com sua sutil percepção desvela que a essência da formação do conceito (científico) são as extremidades da via que separam o contato inicial com o conceito e o instante em que há sua apropriação pelo estudante e essa é a afirmação máxima do ponto de vista desenvolvimento cognitivo da possibilidade do ensino de novos conceitos ou sua progressão por meio do processo escolar.
O conceito científico se subordina, de acordo com VIGOTSKI, à lei geral do desenvolvimento do significado da palavra: a formação do conceito científico não termina, mas apenas começa no momento em que a criança (estudante) assimila pela primeira vez um significado ou termo novo para ela.
De outro modo, VIGOTSKI estabelece a paridade entre o conceito e o significado da palavra igualando esta equação em seu resultado e processo de resolução, atribuindo-lhes o valor de ser apenas uma parte do desenvolvimento da língua, exatamente em seu aspecto semântico.
A um título dado, além de seu próprio sentido e significado, admite-se a possibilidade sob a ótica do professor autor e do estudante experimentador da expressão de seu conteúdo com seus próprios sentidos e significados, isto é, sob a mais pura entonação de simbiose.
Em seu aspecto mais metodológico construcional essa simbiose, se apresenta como uma rara possibilidade de relação mutuamente vantajosa, mediada naturalmente pelas ferramentas culturais características do processo escolar.
É no fluir do aspecto processual, do metodológico, que as negociações ativas de significados encontrarão espaço para o desenvolvimento das especializações funcionais mediadas pelas ferramentas culturais.
Toda a fundamentação apresentada até o momento tem para VIGOTSKI (2002, p.269) e para nós a finalidade de construir um suporte para resolver a questão do desenvolvimento cognitivo do conceito científico, concluindo que esta é uma questão de ensino e desenvolvimento e que encontraremos na aprendizagem a fonte de seu desenvolvimento.
Entre a proposição do problema do desenvolvimento cognitivo do conceito científico e a formulação da solução desse problema, aborda um vasto conjunto de formulações que sinalizam para uma concepção única do problema da aprendizagem e do desenvolvimento, porém é sobre o tema escrita que nos deteremos com maior interesse.
Por que a escrita é difícil para o escolar?
A escrita é uma função específica de linguagem, que difere da fala não menos como a linguagem interior difere da linguagem exterior pela estrutura e pelo modo de funcionamento a qual requer pra seu transcurso pelo menos um desenvolvimento mínimo de um alto grau de abstração, não usa palavras, mas sim representação das palavras pela linguagem de pensamento e isto se constitui em uma de suas maiores dificuldades, pois é uma linguagem sem interlocutor presente fisicamente, em que o destinatário da linguagem ou está totalmente ausente ou não está em contato com aquele que escreve.
Uma relação com a situação exigida do estudante na escrita é a de que a organização da estrutura semântica da linguagem escrita exige trabalho arbitrário com o significado das palavras (conceito) e o seu desdobramento em determinada seqüência.
É a escrita por meio dos gêneros de discurso escolar científico que organizará a semântica da linguagem a partir do trabalho arbitrário com o conceito e seu desdobramento em determinada seqüência mediado por um modelo padrão.
Podemos ressaltar que para projetar, organizar, desenvolver e analisar a intervenção escolar por meio do processo de comunicação discursiva escrita no campo das ciências dentre outras possibilidades convém considerar o desenvolvimento cognitivo do estudante a partir do instante inicial do momento programático definido.
Esse momento pode ser observado sob a ótica do processo do caminho a ser percorrido para a formação do conceito científico em seu aspecto semântico e de como são adquiridos esses sentidos e significados.
Especial atenção deve ser direcionada ao tecido conceitual pré-existente no estudante, a relação mediada com o mundo dos objetos e ao papel do enunciado como elo de uma cadeia.
É recomendável um olhar para a noção de zona de desenvolvimento imediato, para a exigência do grau de abstração representado pela escrita, da noção da esfera e do gênero do discurso, e da utilização de um modelo que assumirá o papel de um padrão.
Concluindo, abordamos os aspectos teóricos que consideramos mais relevantes fundamentados nos estudos de Vigotsky e estabelecemos as primeiras relações com os conceitos do círculo de Bakhtin para justificar e sustentar a questão do desenvolvimento cognitivo do conceito científico
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VIGOTSKI, L. S., A Construção do Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001.